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domingo, 10 de maio de 2015

O iogurte dos outros (#01)

«Este iogurte é sobre o nascimento da M.
A C. estava grávida de 12 semanas, quando fomos fazer uma ecografia. Nesse dia, a Dra S. diz: “Eh pá isto é mesmo muito cedo, mas vocês têm aqui um menino!”
Foi a primeira desilusão. Eu que queria tanto uma filha!
Eu sei. Era o que mais querias.
Contrariado, lá me fui habituando à ideia, juntamente com a C., pois o desejo de uma filha era mútuo! Após o primeiro choque, lá conseguimos chegar ao nome: escolhemos Guilherme. Fomos dando as novidades aos familiares mais próximos e eis que chegam às primeiras roupas para o enxoval em tons de azul e branco!
Por acaso a família do Norte é toda do FCP!
Bobby, Tareco, 'bamos' lá comprar a roupa ao morcão.
Aquando da eco das 16 semanas, a Doutora diz: “Então? Já têm nome para o vosso bebé?”
Nós, em uníssono: “Sim, será Guilherme!”
Doutora: “Guilherme?!.Ops! O Vosso bebé perdeu a pilinha!”
Mau!
E...nós: ?????
 
Logo então que já nos tínhamos habituado à ideia do menino, pois não foi nada fácil! Tudo o que víamos nas lojas para os bebés, achávamos tudo tão giro para meninas, já para menino era tudo tão sem piada! Menos mal, pelo menos, uma cachopa sempre era o nosso desejo inicial!
O estado de intriga foi de tal ordem que a princesa quase nascia e ainda não tínhamos conseguido chegar a um consenso quanto ao nome! Acabou em M. poucos dias antes de nascer!
Aqui estão alguns exemplos interessantes.
Finalmente, rebentam-se as águas! 
Um bocadinho demais, mas assim percebe-se melhor.
Na Maternidade BB, a C. estava sentadinha e ensopada em água, enquanto eu fazia a inscrição no guiché mesmo à entrada. Surge a primeira chamada para fazer registos, eu ajudo a C. a levantar-se e acompanho-a até ao consultório e a enfermeira diz-me:
"o marido aguarda ali fora, sentadinho, que a gente já o chama!"
Rabinho entre as pernas, lá vou voltar a sentar-me! Onde? 
...de que estou um bocadinho molhado.
Claro como a água: na cadeira onde a C. se tinha acabo de levantar!Imaginem o ensopado em que fiquei! (Pelo menos já não foi necessário chamar os serviços de limpeza!)
É isso.
Isto ainda está no início! Que mais me irá acontecer! Nem eu conseguia imaginar!Eu sou daquelas pessoas a quem me acontece de tudo, e sempre 3 vezes pior do que aquilo que já ouviram falar em relação a outros!
xii....que exagero!
Finalmente chegamos ao quarto. Eu sempre muito atencioso e preocupado com a C. e  só ouvia dela : "Deixa-me em paz!!!!" ( isto das 18h00 até à 01h00...). Até que uma enfermeira repara que eu ainda ali estou ( devia ser transparente naquele dia) e me diz: "o Papá ainda aqui está, já não é permitido! Devia ter saído às 21h00" (Só transgredi as regras em 240 minutos). E continua:
"O melhor é o senhor ir para casa e quando for necessário a gente chama-o! " (eu a pensar: Pois... Ir para casa... Leiria é já ali... Fica a uns 7 minutos de TGV!!)
Beep...beep...
Lá me decidi a sair e falei com a C.: "Vou estar lá em baixo na sala de espera, um pouco mais na net e, caso não haja novidades, vou dormir numa Pensão aqui ao pé! Beijoca, e lá vou eu para baixo com o eco " deixa-me em paz!"
ya..deixa-me em paz!
Mal tive tempo de aquecer a cadeira, telefonema da C.: "vem para cima que vou agora para a sala de parto!". Lá vou eu a correr, chego ao átrio onde tive que esperar que a C. passasse para o bloco, e deparei-me com um sujeito de bata verde naquela zona (pensei que seria um enfermeiro).
Eis que aparece a C.
Beijinho... e lá foi ela! Tudo muito rápido. Mal se fecharam as portas, surge uma enfermeira a dizer: "O pai da criança que venha rápido senão não vê o bebé a nascer!"
Tu consegues, basta quereres!
Vou logo a correr claro! Chego lá, a C. estava preparada para parir, com umas feições muito estranhas (de quem estava para dar à luz) diria mesmo quase irreconhecível! 

Mas o cabelo russo e as sardas estavam lá! Não havia cá enganos! Até tentei dar-lhe a mão mas o momento era tão embaraçoso que não deu oportunidade! Coloquei-me mesmo à frente da saída da criatura e uma enfermeira diz:
"O paizinho tem que ficar na lateral" (estava eu quase a tirar o lugar à parteira). 
Com a minha visão lateral eis que surge o nascimento propriamente dito! O choro da criança, a presença da Dra S. na sala de parto (que por coincidência estava de serviço naquela noite e me conhecia por ter sido ela a acompanhar a gravidez e eu sempre acompanhei a C. nas consultas).
A parteira levantou a bebé no ar, e o que é que eu vejo: uma pila!

Fonix! Comecei logo a pensar: pois claro, errar é humano! O nome do Guilherme não foi nada ao acaso! Mas pronto, agora vai ter que vestir cor-de-rosa!
Pode haver um certo risco na indumentária cor-de-rosa.
Os pensamentos surgiam naquelas fracções de segundos que mais pareciam diarreia! 
Tirem-me deste filme!!!!
Coragem, pá!
Até que a Dra S. levanta a cabeça e olhando-me nos olhos (não, não pediu desculpa pelo engano do sexo!Enquanto ela processava as palavras, o meu cérebro dizia-me: Não! Não, a C. era incapaz de te fazer uma coisa dessas!) diz: "Este não é o PAI!"

Continuei a ouvir a médica: "O pai é o senhor da bata verde que está lá fora!"
Peço desculpa e fujo porta fora. Passo pelo "sportinguista" e tento apanhar um buraco  para me esconder! Não sabia mesmo onde me meter!
Ya, ya...já tiveste melhores dias.
Depois disto, finalmente voltam a chamar-me. Mas desta vez, para o nascimento da minha filha.
Agora sim!
Nos dias seguintes, aquando das visitas na maternidade, volta e meia, deparava-me com o sportinguista no outro lado do corredor. Como devem imaginar, jamais tive coragem para lhe dirigir a palavra, e quando o via, fazia um desvio para o WC à espera que o sujeito passasse, ou fazia de conta que me esquecia de alguma coisa e voltava para o quarto.»
Com um gajo assim, parecido com este, nós também desviávamos caminho. Nós entendemos.

Iogurte enviado por P.R.


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